Barro Preto, atual Trindade, 1848. A casa de Constantino Xavier e Ana Rosa já não conseguia acolher o fluxo de fiéis que acorria para ver o medalhão de barro encontrado pelo casal goiano cerca de cinco anos antes, enquanto arava a terra, e que retratava o Pai Eterno ao lado do Filho e do Espírito Santo, coroando a Virgem Maria. O casal construiu então uma pequena capela, coberta de folhas de buriti. Hoje, 170 anos e quatro templos cada vez maiores depois, o município goiano abriga as obras daquela que deve ser a casa definitiva do medalhão e nada menos do que uma das maiores igrejas do mundo.
O atual santuário, construído entre 1958 e 1994, é o local da tradicional romaria e da festa em louvor ao Divino Pai Eterno desde 1974. As celebrações deste ano, que aconteceram no final de junho, quebraram mais um recorde e receberam cerca de três milhões de romeiros durante os dez dias da novena e da festa, consolidando Trindade como o segundo maior destino religioso do Brasil, atrás apenas de Aparecida.
Os números são superlativos: durante os dez dias o santuário, dirigido pelos religiosos redentoristas, realizou 121 missas, 45 novenas e centenas de batismos e confissões. Só nos três últimos dias da festa a basílica recebeu 1,7 milhões de visitantes. A romaria de carros de boi, reconhecida em 2016 como Patrimônio Cultural Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), foi constituída por mais de 350 carros, oriundos de Goiás e de outros estados da região – alguns chegam a pegar 20 dias de estrada para chegar ao santuário.
Superlativo também é o projeto do novo santuário, em construção desde 2012 a pouco mais de um quilômetro da basílica atual: o complexo terá 145 mil metros quadrados de área construída – o equivalente ao Estádio do Maracanã. Só a igreja terá mais de 12 mil metros quadrados, o que fará dela a segunda maior igreja do Brasil e a terceira do mundo. A igreja terá lugar para 6 mil pessoas sentadas ou 13 mil de pé – e a praça ao seu redor será capaz de abrigar 250 mil pessoas. A torre, de 110 metros de altura – mais alta que o edifício do Congresso Nacional –, abrigará 74 sinos, incluindo o maior sino de badalo do mundo, o Vox Patris, de 50 toneladas.
À frente dos trabalhos artísticos, o santuário confirmou recentemente o nome de Marko Ivan Rupnik, um dos maiores artistas sacros da atualidade. O jesuíta esloveno é o diretor do Centro Aletti, em Roma, e é responsável por obras em mosaico em igrejas de renome como o Santuário de Lourdes, a Basílica da Santíssima Trindade em Fátima, o Santuário de São Pio de Pietrelcina, o Santuário de São João Paulo II em Cracóvia e a Capela Redemptoris Mater, no Vaticano. Os mosaicos de Rupnik e sua equipe cobrirão entre 50 e 60 mil metros quadrados das paredes do novo santuário.
Para acompanhar o crescimento da devoção e o deslocamento da movimentação no município de 121 mil habitantes em função da localização do novo santuário, o padre Robson de Oliveira, reitor da basílica entre 2003 e 2015, fundador da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) e atual superior provincial dos redentoristas em Goiás, propôs um plano de desenvolvimento estratégico chamado Trindade +20. “Os políticos queriam +10, mas eu falei que isso é jogo político. Não adianta, precisamos de 20 anos”, disse. “Trindade vai crescer e ser uma cidade muito importante e forte, uma referência para católicos e não católicos”.