A PALAVRA o inspira e evangeliza;
a IMAGEM que visibiliza a palavra bíblica
e leva aos olhos o que a palavra transmite ao ouvido;
a ORAÇÃO, prece litúrgica na que ressoa a voz da Igreja
e se consuma a comunhão dos Santos
num mesmo e único Espírito …
“Não farás para ti imagens esculpidas, nem qualquer imagem do que existe no alto dos céus, ou do que existe em baixo, na terra, ou do que existe nas águas, por debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto” Ex 20:4
Na passagem acima, Deus exorta e condena diretamente a idolatria.
É preciso distinguir um ícone de um ídolo. Ambos são imagens, mas são completamente distintas. Um ídolo (em grego, εἴδωλον, eidolon) é uma criatura que é colocada no lugar de Deus. Um deus falso. E isto é proibido pelo primeiro mandamento da lei de Deus.
Já o ícone (em grego, εἰκών, eikon), embora seja também uma imagem, uma criatura feita por mãos humanas, não é colocada no lugar de Deus, mas sim remete a Ele. Como uma janela que se abre para Deus.
É necessário interpretar as Escrituras sem subjetividade e fundamentalismo. Ou seja, interpretar ao pé da letra.
A interpretação, chamada literal e fundamentalista, é muito estreita, pois a linguagem usada não é do nosso tempo e sim, milenar.
Os livros do Antigo Testamento foram escritos para o contexto da época. E qual era o contexto da época? Por que Deus havia proibido o povo hebreu de esculpir imagens?
O povo israelita era um povo primitivo (Êxodo), que convivia com a cultura dos povos que o cercavam (babilônios, egípcios e gregos). Esses povos eram politeístas, ou seja, prestavam culto a vários deuses.
Misturado ao politeísmo, havia o panteísmo que é encontrar deus em todas as coisas, em objetos e realidades diferentes.
Eram povos pagãos, que adoravam ídolos, por isso, Deus é muito pedagógico nesse período, para que o seu povo não assimilasse a cultura de adoração de ídolos através de imagens.
Deus sabia o que estava fazendo. Não foi simplesmente uma proibição, mas sim um cuidado, um zelo para com o seu povo.
Isso se justifica pelos acontecimentos. Enquanto Moisés recebia as tábuas da Lei, o povo pede a Arão que construa um ídolo, um bezerro de ouro (Êxodo 32). A preocupação do Senhor não está nas imagens em si mesmas, mas o que ela significa para os povos primitivos, levando-os à idolatria. E o que as imagens significam para os povos primitivos?
Eles acreditavam que se conseguissem construir um ídolo e ali colocassem a divindade, eles capturavam a presença do divino naquela imagem. É como se a essência e vitalidade daquele divino ficasse preso no objeto e, portanto, tinha-se domínio sobre aquele deus.
Vários povos cercavam o povo hebreu, que era o único monoteísta. A probabilidade do povo de Deus se deixar influenciar era muito grande. Deus não queria que o israelita se desformasse, se desvirtuasse.
Na sarça ardente Deus revelou o seu nome, mas não revelou o seu rosto. Foi um cuidado que Deus teve com o seu povo. Êxodo 3:6
Na antiga aliança não se falava em Deus trino (Santíssima Trindade). Falava-se: O Espírito pairava sobre o mundo, sobre o firmamento. Pela imaturidade do povo hebreu, se fosse falado sobre o Deus trino, seria muito fácil eles caírem no politeísmo. Poderiam imaginar (segundo a sua cultura) que são três deuses em um só, quando na verdade são três pessoas em um só Deus. O povo israelita ainda não estava maduro para entender.
Deus, em sua sabedoria, revelou a trindade aos homens somente em Cristo Jesus. Portanto, o trecho do Êxodo tem uma explicação para aquele tempo, que antecede a plenitude dos tempos, que é Jesus. Jesus trás a Boa Nova.
Em Mateus 19: 3-12, os fariseus testam Jesus lhe perguntando sobre o que Moisés havia falado sobre rejeitar a mulher adúltera. Jesus justifica: “É por causa da dureza do vosso coração que Moisés havia tolerado o repúdio das mulheres; mas no começo não foi assim. Jesus fala: Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e dos dois formarão uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu”.
Deus sempre usou de pedagogia com o Seu povo. A prova disso é que em várias ocasiões, certificadas pelas Escrituras, pedem que se confeccionem imagens:
Em Números 21:4, vemos quando o povo perdeu a coragem e começou a murmurar contra Deus e contra Moisés. Então Deus enviou serpentes. O povo foi até Moisés reconhecendo o pecado e pediram que ele afastasse as serpentes. O Senhor ordena que uma serpente de bronze seja construída, fixando-a sobre um poste. Esse emblema serve de sinal de piedade e libertação. Olhar para ele constituía um ato de fé. É um sinal de salvação, mas não vale por ela mesma.
Existe outras ocasiões: Deus ordena a Moisés que coloque dois querubins de ouro sobre a Arca da Aliança. Êxodos 25: 17-22.
Em I Reis 6:23-28 – No Templo construído por Salomão foram colocados querubins de madeira junto à Arca da Aliança. E as paredes do templo tinha imagens de querubins. Tudo feito com ordem de Deus, conforme vemos em I Crônicas 22:6-13, e em Êxodo 31:1-11. Em I Reis 7:25.29 – No Templo de Salomão havia também bois de metal, leões, touros e querubins.
Deus não se contradiz. Deus manda que, se construa imagens, pois, era um outro momento. Deus usa de sinais. Muitas vezes somos insensíveis a esses sinais. Não podemos cair na heresia maniqueísta que desvinculava a matéria do espiritual.
Hoje, muitos dos nossos sentidos estão insensíveis, mas não significa que esses mesmos sentidos não prestam. Pelo contrário, temos que fazer com que eles voltem à sua pureza. O humano é criação de Deus. Os nossos sentidos são criação de Deus e por isso temos que desenvolvê-lo para serem sensíveis a beleza que se encontra em um ícone, por exemplo.
Existiam deformações na época de Jesus. Ele mesmo veio combater o farisaísmo, que hoje é sinônimo de hipocrisia, mas na época, eram aqueles que observavam estritamente as leis de Deus.
Não é porque, infelizmente, muitos dos nossos irmãos católicos entram na Igreja e ficam beijando os pés de imagens e se esquecem de Jesus Eucarístico, que nós não vamos ter imagens.
Cristo é que traz o fundamento para termos imagens de santos, de Maria, do próprio Jesus, do Espírito Santo, pois Cristo é imagem do Pai. Ele é a revelação. O verbo encarnou-se e revelou o Pai. É em Cristo Jesus que Deus se fez imagem. O Deus que era invisível, agora é visível, através do verbo que se encarna.
No antigo testamento, Deus permitia que fizesse imagem de anjos e animais, mas proibia fazer imagem de Deus, pois Deus ainda não tinha se revelado como imagem. Deus se fez imagem em Jesus.
Em Cristo temos o sinal infalível de Deus na humanidade e isso pode parecer simples para nós hoje, mas para o povo hebreu naquela época, não era. Eles não conseguiram ver Deus em Jesus. Hoje, a nossa dificuldade é pouco diferente, pois muitas vezes não conseguimos ver Deus na Eucaristia.
O próprio homem é um ícone de Deus, que o fez a sua imagem e semelhança. Portanto, o homem é o primeiro ícone de Deus, mas estragou-se e Cristo veio consertar tudo na Cruz.
Quando Cristo entrou na história, a partir daí Deus se fez imagem. Portanto, a partir daí, nós podemos fazer imagens de Deus, não só de anjos. De Cristo tiramos a legitimidade de confeccionarmos imagens. Podemos fazer imagens porque temos um rosto referenciado em Cristo.
Fazemos, também, imagens de Santos, porque eles são sinais da presença de Cristo.
A imagem da Igreja Primitiva
A Igreja primitiva soube captar, por graça do Espírito Santo, o sentido Evangélico da representação de imagens de Deus e seus santos. Em consequência, os antigos cemitérios, as catacumbas apresentavam diversas imagens, geralmente inspiradas pelos textos bíblicos.
É notável a representação de Maria, a Mãe de Deus, em afrescos nas catacumbas. Primeiro afresco data do século 3. Essa imagem se encontra nas primeiras páginas do Catecismo da Igreja Católica.
O que é o ícone?
A palavra ícone deriva do termo grego “éikon”, que significa genericamente “imagens”.
Na história da arte e também linguagem comum, a palavra ícone é reservada a uma pintura, geralmente portátil, de gênero sagrado, executado sobre madeira com uma técnica particular e segundo uma tradição transmitida pelos séculos.
A pátria do ícone é o Oriente Bizantino (Imperio Romano Oriental). Ainda hoje se faz ícone na Igreja Oriental.
Os ícones são produzidos em profunda oração. Portanto, é uma obra espiritual e não artística. Dizemos que o ícone não é pintado e sim, escrito, pois todo ícone é palavra de Deus.
Para a igreja Ortodoxa, o ícone tem um sentido muito mais profundo que as nossas imagens do Ocidente, que nasceram muito mais como uma obra de arte. O ícone não é uma obra de arte e nem estética.
Muito difundida também é a tradição que atribui os primeiros ícones a São Lucas, que teria pintado a Mãe de Deus.
O fundamento do ícone é a encarnação e o grande mistério que o ícone professa. “Porque o invisível tornou-se visível, tomando carne podes executar a imagem Daquele que foi visto. Porque reduziu-se a quantidade e a qualidade e revestiu-se das feições humanas, então pintamos(…) e expomos à contemplação Aquele que quis tornar-se visível”, afirma São João Damasceno, na sua defesa dos santos ícones. Sendo assim, o iconógrafo pode então pintar o rosto de Cristo, da sua Santa Mãe e de seus santos transformados em imagens, ícones d’Ele.
As obras de Michelangelo, na capela Cistina, são obras de arte, admiradas pelos pagãos e pelos ateus. O ícone é a apresentação da palavra de Deus de modo visível, assim como são as Sagradas Escrituras.
É uma maneira de evangelizar, pois são as palavras de Deus desenhadas, escritas, pintadas.
Janela para a Eternidade
A frase, propositadamente repetida, não é um slogan: através do ícone o divino nos ilumina. A luz é o atributo principal da glória celeste e os ícones representam os habitantes do Reino, contempladores da luz incriada, pela qual se deixam penetrar até se tornarem esplendorosos, como indica o nimbo ao redor de seus rostos (os nimbos não são, como as auréolas ou as coroas, simples sinais da santidade).
O ícone, visto com os olhos do coração iluminados pela fé, nos abre para a realidade invisível, para o mundo do Espírito, para a economia divina, para o mistério cristão na sua totalidade ultraterrena. É lugar teológico, antes, “teologia visual”, como muitos já disseram.
O ícone é inspirado e sagrado de modo específico, símbolo que contém presença, cujo tempo, espaço e movimento não são representados pela percepção comum. A própria laconicidade de seus traços nos remete para uma mensagem de fé, a “visão do Invisível”, para empregar as palavras de São Paulo (Hebreus 11:1).
«O ícone se afirma independentemente do artista e do espectador e suscita não a emoção, mas a vinda do transcendente, cuja presença ele atesta. O artista se esconde atrás da Tradição que fala. A obra torna-se uma manifestação de Deus, diante da qual devemos nos prostrar num ato de adoração e de oração».
Poder-se-ia continuar muito mais, tentando precisar bem o que é o ícone, mas os orientais não gostam de definir; pelo contrário – observa um deles – é necessário não definir! Portanto, procuremos descobrir pessoalmente o que é o ícone…
No recolhimento e no silêncio, os olhos se abrem para a luz da Transfiguração e seremos naturalmente conduzidos pela força do Espírito à luz do ícone, a fim de contemplar não só a face de Jesus, mas também a luz da verdade divina.
As santas imagens, presentes em nossas igrejas e em nossas casas, destinam-se a despertar e a alimentar nossa fé no mistério de Cristo. Por meio do ícone de Cristo e de suas obras salvíficas, é a ele que adoramos. Mediante as santas imagens da santa mãe de Deus, dos anjos e dos santos, veneramos as pessoas nelas representadas.
Todos os sinais da celebração litúrgica são relativos a Cristo: são-no também as imagens sacras da santa mãe de Deus e dos santos. Significam o Cristo que é glorificado neles. Manifestam “a nuvem de testemunhas” (Hebreus 12:1) que continuam a participar da salvação do mundo e às quais estamos unidos, sobretudo na celebração sacramental. Por meio de seus ícones, revela-se à nossa fé o homem criado “à imagem de Deus” e transfigurado “à sua semelhança“, assim como os anjos, também recapitulados em Cristo.
Imagens estão por toda parte: na esposa, no esposo, nos filhos, na natureza, etc., tudo pode ser janela transparente para louvor a Deus. Ou pode ser ídolo. Depende de como se olha para essas imagens. Diante de qualquer criatura há sempre uma escolha a ser feita: ícone ou ídolo? Para Deus ou no lugar de Deus?
O culto aos santos é lícito, pois até mesmo a Sagrada Escritura atesta isso, quando a Virgem Santíssima, em seu canto Magnificat, afirma: “Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada” (Lucas 1:48) e o próprio Jesus Cristo por diversas vezes se refere às pessoas como sendo “bem-aventurados, felizes” ( Mateus 5:3). Ora, Ele mesmo está louvando tais pessoas, chamando a atenção para ação de Deus em tais criaturas. Esses são os santos.
Quando os católicos veneram um santo, o que fazem é tão somente louvar a Deus e agradecer por Ele usar seres humanos, frágeis, para realizar a Sua obra. No caso de um ícone, que recorda alguma criatura, a mesma regra se aplica. É uma janela que conduz para Deus é tão somente o mistério do ícone: que conduz para o culto e o louvor a Deus na glória eterna que só a Ele pertence.
Como foi dito, o invisível se fez visível e todos o conhece, em ( João 14:9-17 ), Jesus diz “Filipe, faz tanto tempo que estou convosco e tu não me conheces? Quem me viu, viu o Pai! Como é que podes dizer: ‘Mostra-nos o Pai’? 10Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que vos digo, não as digo de mim mesmo; mas o Pai que mora em mim realiza suas obras.”
Outro ensinamento de Jesus esta em ( Mateus 22:37-40 e Marcos 12:29-34), “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento“, ele ensina a amar o seu próximo, “Ame o seu próximo como a si mesmo’. Não existe mandamento maior do que estes“. E que fique bem claro, “ O Senhor nosso Deus é o único Senhor“.