Capa irresponsável da revista Veja associa Igreja e pedofilia
Há mentiras que são ditas usando a verdade como instrumento
Há mentiras que são ditas usando a verdade como instrumento. Os que usam a verdade para conduzir à mentira são mais criminosos do que os que usam a mentira como instrumento de trabalho. A verdade não se rende à mentira; ela é conduzida até certo ponto, onde fica ancorada, mas a exploração da mentira fica a cargo dos aventureiros.
A revista Veja trouxe na capa desta semana um caso de pedofilia cometido por um padre em Goiás. Conta a reportagem que Fabiano Santos Gonzaga, 28 anos, abusou de um adolescente de 15 anos numa sauna de um clube. O garoto tem retardo mental e sua compreensão do mundo é próxima à de uma criança de 9 anos de idade. Segundo a denúncia, o padre, ao ficar sozinho com o menino, obrigou-o a fazer sexo oral. Ao que consta, sem entender bem a gravidade do ocorrido, o menino pediu à mãe para lavar a boca e justificou o motivo. A mãe foi atrás do abusador e descobriu posteriormente que, embora vestido de “civil”, ele era, na verdade, um padre católico. O padre nega que o fato tenha ocorrido, mas, como o seu celular foi apreendido, já se sabe que ele não vivia a castidade e mantinha relações homossexuais.
É um caso escandaloso! Como o Fides Press me dá liberdade para dizer o que desejo, então vamos ver não somente os fatos, mas os bastidores da notícia. Pois bem: dessa notícia resumida acima, a revista Veja cria uma capa em letras garrafais: “Pedofilia na Igreja”. Acompanha o título a imagem de um falso padre, vestido de batina, segurando um terço e tapando a boca de uma criança assustada.
Ora, ora, pois, pois. Nesta capa, a revista Veja deu uma aula de vigarice. Nunca se devem usar termos genéricos em casos específicos, nem se associarem instituições a delitos de membros quando estes agem por orientação própria. O que se pretende com isso? É evidente que atacar um padre específico seria trabalho de amador. O que a grande imprensa deseja é atacar a Igreja, afugentar novas vocações e afastar dela as crianças. A Veja, mesmo tendo a foto do acusado, não pôde fazer seu terrorismo plenamente porque lhe faltava uma batina e um terço nas mãos. Coube à edição da revista fazer a montagem criminosa. Não era mais o padre Fabiano, mas sim a Igreja católica. Notou o truque? Definitivamente, não estou preparado para um mundo onde não existe culpa individual e sim pecados sociais.
O famosíssimo sociólogo italiano Massimo Introvigne analisou, em 2010, o panorama da pedofilia na Igreja visto a partir da imprensa. A conclusão dele é que se trata de um caso de pânico moral. Segundo Introvigne, o objetivo da imprensa é usar de uma famosa técnica de repetição discreta. A insistência em palavras-chaves leva o grande público a aderir a uma tese mesmo sem ter razões para isso. O público é induzido a crer que se trata de algo de tal obviedade que só pode ser visto como autoprobante. “Sempre vejo padre pedófilo na TV. Eureca: o clero é todo pedófilo”. Bocejando o seu clichê, o povo guiado pela grande mídia não poderá mais desassociar a Igreja da pedofilia. Aqueles que ousarem analisar o problema serão taxados de “religiosos fanáticos”. Na prática, o problema material desaparece e começa uma discussão que previamente esvaziou o significado da palavra que deveria estar ao centro da questão: “pedofilia”. Por mais que se insista, o problema não vai ser posto na devida métrica. Jamais será justificado o salto olímpico entre um sacerdote delinquente e um clero indecente. Sim, existem padres pedófilos. Mas quantos são? Pouco importa. Essa análise é típica de fiéis fanáticos, dizem.
Introvigne mostrou que, num período de várias décadas, cem (100) padres foram denunciados e condenados na Itália, enquanto 6 mil professores de Educação Física sofriam condenação pelo mesmo delito. Na Alemanha, desde 1995, existiram 210 mil denúncias de abusos. Dessas 210 mil, 300 estavam ligadas ao clero, ou seja, menos de 0,2%. Por que só nos ocupamos das 300 denúncias contra a Igreja? Sim, um caso que fosse seria um absurdo, mas negar a proporção dos fatos é render-se à mentira. Não, não desejo justificar nenhum crime. Padres que se envolveram em pedofilia devem ser imediatamente expulsos do clero e presos.
Alguém poderia contra-argumentar que o importante é saber que existe o crime, não quantos são. Por que não? Ora, qual instituição não tem pedofilia? Definitivamente é uma vergonha que exista um membro da Igreja envolvido nisso, mas negar as devidas proporções dos crimes é lógica de psicopata.
Neste vendaval, alguém perguntará: “Até quando a Igreja manterá o celibato sacerdotal?”. Respondo com uma indagação: por que um homem que se abstém do sexo começaria a sentir atração por crianças? Enquanto não obtiver uma resposta, continuarei defensor do celibato. Mas, como perguntar não ofende, gostaria de indagar à editora Abril, dona da revista Veja, se a erotização das crianças ou o bombardeio sexual em revistas como Nova Escola pode gerar algum tipo de fomento da pedofilia. Quer brincar de apontar a promoção da pedofilia, dona Abril? Vamos brincar!
Para bater na Igreja, qualquer instrumento serve. No Brasil, a CPI da Pedofilia, por exemplo, considerou como prova de crime de pedofilia um vídeo em que o monsenhor Luis Marques Barbosa, falecido em 2014, mantinha uma relação homossexual com uma “criança” de 20 anos (sic). Claro que é contestável. Afinal, quem estava sendo abusado? O “bebê” de 20 anos ou o monsenhor de 83? “Ah, mas ele deveria seguir o celibato”, retruca um espertão. É evidente! Mas não venha chamar de pedofilia o que não é.
Na verdade, temos uma imagem associada a esta palavra que ajuda a destruir os fatos concretos que deveriam ser analisados. A palavra “pedofilia” traz a imagem de uma pobre criança sem ter o que fazer enquanto um adulto, que detém todos os meios de ação, a obriga a manter relações sexuais. Neste caso poderíamos dizer isso? Acho que não.
Enquanto qualquer argumento for válido para atacar a honra da Igreja, não haverá discussão séria.